Solidão, és uma amante que não pedi, qual âncora,
pesas-me cargas que me puxam e que prendem no
fundo do teu mar de bruma, meu coração pesado.
Sou tua noiva predileta, fizeste minha alma amorfa.
Pintas os rostos vazios, engoles o sol, bebes as cores.
Caminhas na esteira de mim, doce canto de sereia.
És abismo que me chama sôfrego, pedes-me de volta
Submissa, regresso a ti, após fugaz exílio
Não sei que miragens forjaste, disfarçadas de lar,
insidiosas paisagens prometiam vida sem decepção.
Não sabia que sorverias a vida, secar-me-ias o sangue
feito para correr e queimar em instantes efémeros
onde o céu encontra a alma solene.
Sob o teu véu já não me vejo, levas-me a vida,
deixas-me o tempo para matar.
Ninguém te quer, mas toda a gente te tem.
Ninguém me quer, e ninguém me tem.
Morro e renasço, no teu berço amargo
Matas-me, mas deixas-me viva
MF