Hoje reconheço que há dois tipos distintos de felicidade. Ambas são dignas de serem sentidas, ambas nos fazem dizer "estou vivo!":
Há a felicidade plácida, ancestral, fundamental - aquela em nos sentimos completos, tão calmos, tão unidos ao universo que poderíamos morrer naquele momento. É a paz dentro de nós, é o olhar absorto perante tudo o que nos rodeia. Sinto-a no mar, procuro-a quando estou só.
Há a felicidade das paixões impetuosas - aquela que nos enche com tanta vida, que torna as cores tão coloridas, o riso tão verdadeiro, cada inspiração tão sagrada e o sangue tão pulsante, que só queremos mais um dia igual àquele ou parar, parar naquele momento. Senti-a em ti, procuro-a de novo por aí.
A primeira felicidade, é a felicidade dos gregos, dos filósofos, dos solitários. A ataraxia, a aceitação plena do destino, o deslumbramento com a beleza natural, o afastamento voluntário das paixões frívolas, das desilusões sociais. Olho o céu, sinto o mar e de repente sinto-me maior, sinto-me humilde, completa como se se operasse uma fusão entre a minha própria alma e toda a natureza. Sinto-me no presente, aceito a morte. Posso ir, sem peso, nada me prende nesse momento.
A segunda felicidade, é a felicidade dos amantes, é o amor apaixonado, exclusivamente humano. É contraditória em tantos níveis, mas toda a gente a almeja. Só os cínicos e os amargos dizem que é ilusão, os risos, os olhares, as lágrimas aquando o seu término. Cria-se uma dependência, mas amamo-nos mais a nós próprios por sermos amados. Sentimo-nos visceralmente vivos, cada célula nossa é acelerada e impelida para o futuro ao lado da nossa alma gémea. Não sei quantas vezes sentimos esta felicidade, porque amamos ao longo da vida várias pessoas em intensidades diferentes.
É a felicidade de querer viver, é a explosão sensorial. Mas é triste ver algo tão belo degenerar, é triste assistir ao fim de grandes histórias.
Quebro por ser tão efémera, a felicidade que é realmente humana.
MF