terça-feira, 29 de setembro de 2015
Tudo é humano
(Rascunhos: moral, conceitos e olhares puros)
*
a vida não cabe em conceitos,
esquiva-se do sangue
de todos aqueles que teimam em defini-la
não, não quero mais pensar
o próprio ato de pensar é dúbio
se em nós há morais intrínsecas
semeadas na carne, sussurradas pelo mundo
tão baixo que pareceram vir de dentro de nós
- o que é certo, diz-me,
o que é trágico, o que é magno,
o que é belo, o que é nefasto,
o que é humano, o que é depravado, sujo e condenável?
se tudo é humano...
vamos ser tábuas em branco,
vamos nascer todos hoje,
ao mesmo tempo,
e vamos ficar em silêncio
(calar os sussurros que nunca foram nossos)
olhar o céu juntos e ouvir as palpitações dos nossos corações
seguir com os olhos a invisível dança cósmica,
e entrever toda a história que nos trouxe até aqui
somos passado, ou presente ou futuro?
não há tempo nestes instantes
nem dor a cultivar,
nem diamantes a procurar
não há segredos ou medos ou lições
depois, olhemos o céu dentro do olhar de cada um de nós
tudo é puro agora, deslindámos todas as cruzadas,
todas as mortes, e caminhos sinuosos em terras sem lua
e não havia razão para ter medo...
--------------------------------------------------------------------------------------------------
(poetizado olhar sincero)
o olhar que ainda me beija agora, o teu
foste puro e eu esqueci
a memória desse olhar quando a devia ter gravada
viva, em movimento permanente nas minhas mãos,
nas palmas das minhas mãos
as mãos que me recebem o rosto
quando este tomba sobre si,
atraído por gravidades que o vencem pelo cansaço
ou por extraordinários tiros que o interrompem do seu sonho
ele cai de encontro a algo que o abarque
e só tenho as mãos que te tocaram,
as mãos que me recebem o rosto
deviam ser as mãos... os quadros literais, físicos, os ecrãs de todos os olhares
olharias de novo para mim, e o rosto retornaria à sua verticalidade
e não desaguariam na face os rios da incompreensão humana
rios pelas abismais separações de dois universos um dia unidos
os olhares vitais perdem-se em resguardos da mente,
porque o ódio enevoa a verdade:
- tudo é humano.
MF
*
(Fragmentos de sonho)
Eu estava a chorar o silêncio da procissão lenta do meu sangue
e a distância da tua imagem atrás da montra e as projecções do impossível de nós
Eu estava a chorar a solidão fria e magna das flores
e os límpidos céus plácidos que marcavam o ritmo viciado e triste, deste triste punho carmesim ao peito.
MF
Subscrever:
Mensagens (Atom)
[Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...
-
anamnesis 21 de Novembro – diário Fim do dia: Por vezes é melhor pensar depois de um banho. O cansaço do corpo deturpa a m...
-
Virgina Woolf e a irmã Tu és cada memória. És o verde carregado das árvores contra o nevoeiro de um inverno tardio. És a paisagem sobre um r...