Eu
hei-de escrever um poema
Sobre
o teu corpo branco debaixo do meu
E
ser mulher agora
Ser
lembrança, amanhã
Eu
não sei como as pólvoras retornam à quietude do não ser
Por
enquanto, elas explodem no meu corpo
E
eu só sei quão certo é o fogo
Quão
reconciliado é o momento
E
o desejo não é teia
O
desejo é a vida inteira
A
propagar-se, imiscuir-se
Por
cada pedaço de corpo
E
a minha voz sem palavras
Atravessa
o quarto
E
juro-te que não sei de amanhã
Nem
de ontem,
Somente
agora
Apenas
uma vontade de também não saberes
De
amanhã ou de ontem
Somente agora
Somente agora
Então
agarro-te noite dentro
Pela
vida que em mim há eu juro-te ali:
- Que
eu morri algumas vezes
mas
essa dívida saldou.
To TS
*
Depois
de entender a vida, hei-de entender a morte, eu tenho o coração grávido de
querer ser luz. Eu hei-de rir, mais do que rio hoje. Eu hei-de voar assim como
os bandos ao fim do dia. Eu hei-de rir das paredes mudas e dos rostos vazios.
Sensualidade
é um conceito corporalizado, disse. Se soubesses os céus nos lábios e no
aperto, e já não sei quem fui…
Só tenho medo que um dia não tenhas nada para dizer. Medo do silêncio vazio entre
amantes. Medo do medo. Medo de quebrar a promessa que fiz a mim mesma : a
honra, a vida, a transparência pura da verdade.. Num qualquer
acidente do espírito, fossa escura e densa, abismal, perder-me nas areias do
cansaço. Quando fui explosão em pólvora lenta e total. Agora ouço. O som que me
fez chorar a olhar para as estrelas. Quebrada pelo amor. Salva pelo amor. Amor,
que nos fizeste, eu não sei se te sei mas sei que te sinto. E se te sinto, se
te choro, se te oro, se te envio esta imagem de mão ao peito, de tarde límpida e pura,
coração acalentado, coração abraçado pela existência inteira, não um universo
frio mas um universo cálido de luz, Acredita-me. Uma nota lenta que desce até ao coração, e
a melodia outra que fazemos em conjunto, com o fundo de segurança na memória
mais funda do coração. Eu canto. Eu danço hoje, às portas de uma manhã sem fim.
E as palpitações rápidas já não são das corças perseguidas sem esperança. São
as veias insufladas de um sangue novo e puro, criança. Desaguada nas veias, a
vida, a mulher, a criança, a criatura absorta agora, porque ouve - o silêncio de
paz nas entranhas do mundo. E como todos os jogos e ficções à superfície não
acordam esse silêncio da sua quietação intemporal. Não calam, não vencem, o
benigno, a esperança, o amor.
Eu
juro-nos – um dia fomos um dia feito de lágrimas confundidas com riso. Fomos
tudo sendo vida, e na melhor das hipóteses, se nos doermos, sejamos uma
primavera assim, atravessada por uma lágrima que nos sinaliza no caminho sem
fim de aprendermos a ser humanos. No amor.
MF
MF
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