terça-feira, 6 de junho de 2017



Memorandos dispersos:


suponho que inventaste lugares para viver
e cada decisão fora duplamente arquitectada segundo inconscientes diretrizes da memória
tu sabes- como se nos gravamos num só dia
e os mesmos lugares onde fomos ontem orações são os lugares amanhã expiados
vejo o rio e a terra batida
vejo aquele banco que sabemos
eu ando carregada de memória
e eu queria os meus olhos sem o peso da memória
se fôssemos as penas leves sem o caos de ontem
se fôssemos as águas pálidas sem a tentativa do eco
eu quis esmagar todo o tempo para me firmar aqui
e sobre as lágrimas indecisas entre o voo e à queda
eu escolhi voar
das tumbas inscritas com o teu nome
não soube não saber ser humana sozinha, lançada aqui em queda livre
eu perguntava como preparar o chão estando em queda
como preparar o chão sem rédea no coração atraído pelo abismo de todo o tempo passado ontem
até que vi que não havia chão que me quebrasse
que o chão era a vida ao meu encontro
e o sentir do chao foi uma névoa que eclipsou meu medo
eu senti
eu senti que doía sentir
e divorciar me das imagens, divorciar me do tempo na minha esteira
mas houve também o fulcral ar ,arejar da alma, como a corrente atravessando uma porta para hoje e amanhã
eu vi
que o coração também sabia
esquecer sem esquecer
esquecer separado do sentir
e estava livre para uma âncora
no hoje e amanhã


*
poderias reter o sangue
e as luzes e as águas desaguadas num terminal sem tempo
uma foz de bronze, eterna, de sal
poderias despir as trevas desassossegar o magma e ver te a mil anos de distância
e quanto recobres do teu ser?
no limiar da lembrança ,da tua i)mortal esperança,tu não morres
tu não morres de ser vazio
tu concorres às máximas luzes
e anseias somente teu fim
agora o coração descansa enquanto o silêncio dentro te exaspera por sinais que não sabes
uma memória, baque surdo no rés do chão da tua alma
interpelação de anjos e demônios
segura me aqui, vida, amor, sossega me ,cura me, do que eu não sei
lambe me as feridas
dá me as canções da memória sem os feixes brutais da mais-que-nostalgia
não me deixes a chorar sozinha, não!,deixa me a chorar sozinha, mas quantas vezes mais? quantas vezes para me sinalizar humana perante tudo isto, perante mim? eu tinha de ser humana no meu quarto, eu tinha de fechar as cortinas para me ver
e acordar outra manhã e respirar no frio da neblina e o sangue correr outra vez
agora quero
agora quero
matar em mim a fera solitária dos umbrais da indiferença
os olhos fixados num reflexo distorcido
agora quero
a abertura expansiva para a luz que fui, vi, entrevi. a explosão do mais candido amor dentro de mim.

*
as imagens que não calas te param no pensamento
giram em torno do mundo
desces
que ves que já não saibas? caminhos infimos no estendido tempo que viveste sem saber
podia ser hoje o dia do teu nascimento
podia ser hoje o próprio dia
da tua amarga despedida

automatismo cru
uma espécie de violência
e submissao abraçada
distender de céu e magma
esquecimento, esquecimento, todo o extâse humano na ponta dos teus dedos
no arquear do teu corpo
fusão
transfusão
metáfora viva
sonho grito riso
respiração circulação
arrombamento acordar caído, inebriado, dos sentidos
fecho os olhos para estar contigo
fecho os olhos para estar lá
onde não sabemos não saber
onde somos o fluxo vivo circunvago, de uma gloriosa ausência
de nexo e perguntas e imagens
é cego ver . o não espaço grávido de instante e cornucópias de luz
é não ter mãos com que te agarrar
é arrancar te
é a única violência clareada e candida e bela e magna
um dia houve até sangue nas mãos, essa violência , saque , intromissão autorizada
sangue nas mãos e um verso sobre haver uma sagrada verdade no sangue
e nos limites, superfícies, carne, sangue ou magma,
no suor, na criança tremendo entre o medo e o desejo

(dedicado a M.Duras)
*

o Ser ouviu
- nunca Saberás, mas é enorme.
nunca Conhecerás,
somente a cifra que Te diz que tens de persistir'
-contra as correntes, contra os elementos, contra o passado se abismo, e o futuro se abismo
porque encontrarás céus aqui. onde deitar a cabeça
céus de placidez, céus sanguíneos
na berma do grito ,da loucura, nascerás outra vez. e saberás o nome do peso nas tuas temporas. e porque não dormes. o que não cessa em ti quando tudo deve cessar (para dormir) e o sentido dos sonhos. sua decifraçao ante o apagao. os quadros os leitos, a reforma a carcaça, a perdicão das cidades que não conheces. a tua lucidez encoberta. a tua lucidez (re)descoberta. o ápice a tontura, o choro onde apanhas o feixe que te abre e cura . ela está a acordar outra vez. para Me dizer .( o quê ?)

*

Eu imagino que serias
A bela Inexistência dando à luz
E teu sinal um toque que expandisse meu coração
Eu seria então tua graça num corpo viva.



*
Eu não sei viver aqui porque sinto mais que saudade pelo que acabou de passar
Às vezes sinto, Houlden, ' Saudades de toda a gente' saudade não sei de onde, saudade sem lugar. A lágrima é amar esta pertença à terra, e olha la estrangeira tantas vezes.
E choro sem saber porque choro
Talvez esteja morrendo na antevisao de todos os fins e esquecimentos que se querem impossíveis. Talvez esteja sofrendo na antevisão do que não sei , do que não vejo.
Não sei se morro porque outra parte de mim viva em alguém que me amou está morrendo longe de mim. E é a sua forma de me ativar a sua ausência


*


és tão pequeno quanto maior o tamanho da tua arrogância
Seja qual for o caminho ,que não esteja no caminho da vida mais simples. Tem de estar imiscuído na vida, nunca fora desta de forma implacável. Encaixes inteligentes, ajustes, flexibilidade, navegação

*

.Es sufocada pelo infinito nos teus nervos
Pelo que ainda está em espera
Pelo que ainda não é tem de ser
31.10

*
Se no fim olhasses para trás- tua vida a contagem decrescente de um semáforo
Saberias- que foi um teste tudo o resto que não a solidão e os poucos olhares humanos
28.10
*

Se soubesses morrias
Colapsarias, com o infinito nos nervos
Então descansa, criança, então fecha os olhos para o que não podes ver
13.10

*
Obrigada por me relembrares
E dizeres que não são pedras mas ondas
E devo assistir às ondas e trepar mais paredes para desmentir uma voz medrosa. Porque eu sei que sou luz e força, no centro de mim. E o teu abraço alcança me, obrigada
7.10
*
esta vulnerabilidade ancestral
este corte umbilical de infância
já não tenho um deus
nem minha mãe me pode segurar porque sou pesada
então coloco o meu coração em braços humanos
*
E tenho um sonho quase maior que os teus braços
Respeitante não ao ego mas às mais altas esferas do meu espírito. Poderei dizer te no entanto, que és as asas da infância mulher dentro (outra vez) de forma ainda mais bela. O desejo emergindo, a electricidade percorrendo o corpo. Tudo é inteiro e polvilhado de novos sois e paisagens ,lembranças de primaveras nunca desabrochadas. Es a flor e a calma e a simultânea tempestade do meu sangue. Mas ainda assim, paras me para sempre num campo onde a vida é simples e não tem tempo para cruzar uma alta esfera. Eu queria compor mas fico sem tempo para ti

*
E eu não sei porque hei de mas hei de- chorar sempre na esteira da beleza. Eu choro de ser feliz porque vejo chão de vidro sustentando essa casa. E a primavera é só uma de quatro estações. E há uma quinta, onde me recolho. E componho os rastos, provas, da tua passagem em mim. Transmutamo nos.
*
amo tanto quando sorris
amo poder estar dentro de tudo em ti
podermos ser, um no outro, um ao outro
não sei como cheguei até a ti
mas amei ver nos chegar.
*

Eu sonhei com o ar puro
Bicicletas na estrada
Balões nos corações
Eu sonhei 
Com os espíritos puros

*

E dizer-te - que me vences sempre mesmo quando eu fico.

Então eu sei
Que nunca acordo quando nasço
Nunca acordei de ter morrido

*

doem-me as vidas não vividas
efusivas, mais que vivas, aureolares
dói-me a latência ardente das projecções possíveis e impossíveis
dói-me o sangue com memória nas veias
dói-me isto que sonho e sinto e vejo sem corpo
são miragens no ar e olha o tempo...
olha o tempo largando-te a pique sem tempo
imaginaste a vida toda num só dia
a grande arte do espírito- viver o momento que se morre a si mesmo a cada instante,
e o sorriso cheio porque és de fogo e incendeias o próximo instante.

quero-me. desdobrada, tão alta depois de vencida, liberta


*








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