sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018



Meditações sobre a Teoria dos Sonhos de Freud:



Acabei o primeiro volume e pensei (ainda que deva reler certos capítulos):
Será estéril encaixar cada sonho numa só teoria ou paradigma.( Como Freud, em certo sentido, concorda, no entanto, no seu processo psicanalítico tenta provar que cada sonho, podendo estar deformado, é " a realização (disfarçada) de um desejo (reprimido, recalcado)".

Mas, como tentaram provar a Freud, há sonhos que não se parecem em nada com realizações de desejos, recalcados ou não, ( por mais mirabolante que possa ser o esforço de interpretação nesse sentido como realizar o desejo de provar que Freud estava errado!) mas sim (opinião pessoal) como criativas e misteriosas representações de ansiedade. Pensando nos meus próprios sonhos, muitos deles parecem mecanismos de produção de ansiedade, ou melhor, esta é o sentimento de fundo, contextualizada por um cenário ou narrativa que a justifica e que em geral está ligada a tarefas infinitas, a loops infindáveis. Hoje, por exemplo, sonhei que havia uma grande festa na minha terra. E de repente perdi a localização da tenda correspondente ao café onde trabalho, de modo que fiquei à deriva com o dinheiro de três pessoas ( que queriam pagar, respectivamente, um café, dois cafés, quatro cafés, acenavam-me simbolizando com os dedos ao longe, aumentando assim ainda mais a minha ansiedade por não ter o troco para lhes dar.)

 Ao fim do que me pareceram várias horas, continuei perdida, (e descalça), correndo por dentre a multidão e uma miríade de tendas. Dei por mim sem o dinheiro das pessoas a quem tinha de encontrar e dar o troco....Por fim, encontrei um amigo (F) que finalmente me disse a localização do sítio correspondente ao meu café ( uma espécie de prédio, tive de subir as escadas às escuras e fui buscar a minha carteira para repor o dinheiro que tinha perdido.)

Deste modo pergunto-me -  terão esses sonhos alguma função ou interpretação além do conteúdo manifesto ( o meu desconforto relativo a situações de stress e confusão)? O sono não deveria ser um momento reparador? Esses sonhos por vezes fazem-me acordar desgastada como se eu tivesse, efectivamente, passado pelo mesmo que o meu eu dos sonhos. Será que são somente representações dos nossos receios e medos da vigília e há um intercâmbio com o nosso inconsciente, que, talvez nunca cesse e continue a reproduzir, do seu modo mais ou menos simbólico, mais objectivo ou metafórico, as nossas preocupações diurnas, quotidianas? Será que ao sentirmos essa ansiedade em sonhos nos preparamos melhor na realidade para ela? Como uma espécie de reinforço dos circuitos relativos ao controlo da ansiedade, algo análogo aos "neurónios espelho", cuja o mero pensamento de imitação mental de um gesto faz com que determinado movimento seja aperfeiçoado realmente...
Fará mais sentido que esta ultima hipótese tenha alguma validade se acreditarmos que absolutamente nenhuma energia no nosso corpo, no nosso cérebro, é gasta em vão. Então, durante a noite, há um mínimo de energia que é dispendida para os processos vitais da respiração, da circulação sanguínea e, ao nível cognitivo, para uma restruturação, limpeza ou aperfeiçoamento do controlo de factores emocionais, mais que um mero desgaste gratuito que replica as nossas ansiedades sem uma razão e nos atormenta com pesadelos?








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